A paz e a democracia são construções coletivas. Trata-se de aprender a viver junto, dividir, tolerar, incluir a todos através da participação e da cooperação. Mas não basta construir a paz e a democracia: é preciso cuidar delas, assim como cuidamos dos nossos filhos, das nossas crianças, dos nossos idosos, da natureza, do planeta. Para a edição 2023 da Expo da Paulista, cujo tema é Paz, Democracia e rabalho, convidei um grupo de artistas que representa o espírito de coletividade de que estamos falando: colaborativo e inclusivo. O desafio que eu coloquei para as artistas foi o de mostrar, através das imagens, a importância do cuidado com o mundo, com os outros, com a paz e com a democracia. Enquanto alguns saem para guerrear e conquistar, outros vão cuidando dos feridos, dos abandonados, dos que ficaram para trás, garantindo alimento, saúde, educação e cultura para todos – ou seja, preservando a esperança na paz. O trabalho de cuidar pode ser muito árduo, difícil, delicado e, muitas vezes, ele é invisível, não percebido como um “trabalho de verdade”. É muito interessante que a abertura da exposição da Paulista em 2023 ocorra no dia 7 de maio, um domingo que fica entre o Dia Internacional do Trabalho e o Dia das Mães, pois é disso que queremos falar do trabalho de cuidar.
Catharina Suleiman nasceu e vive em São Paulo, em 1977. Formada em fotografia pela Saint Martins School de Londres, atualmente atua como artista plástica. Na @expodapaulista, Catharina apresenta cinco painéis intitulados: Pulso, Fôlego, Mapa, Dryad e o mais emblemático deles, Remenda lá, painel com o qual a artista expressa seu desejo de ver o mundo sendo consertado por mãos femininas. Nas palavras do curador Baixo Ribeiro: “Em seu trabalho visual, Catharina discute processos, principalmente através da fotografia, cristalizando imagens produzidas a partir da reunião de matérias perecíveis em arranjos orgânicos. A mídia fotográfica permite à artista registrar momentos específicos dos processos de criação e construções imagéticas efêmeras, das quais o corpo humano – especificamente da mulher – está em frequente relação com a natureza, representada por elementos como a terra, o tecido ou as plantas. Num procedimento archimboldiano, a artista vai reunindo objetos como galhos, folhas e flores para criar uma outra figura maior, como um coração ou um útero”.
Erica Mizutani nasceu em São Paulo, 1974. Formada nas práticas do design gráfico vem atuando como designer gráfica, artista plástica, performática e urbana. Na @expodapaulista, Erica apresenta cinco painéis intitulados: Esperança, Frizz, Maternidade, Chova-se e Lua em pelo. Nesses painéis, a artista mostra modos de cuidar das pessoas e do planeta, penteando, regando, fazendo chover ou mesmo valorizando as minhocas que arejam a terra. Nas palavras do curador Baixo Ribeiro: “Erica Mizutani elabora seu imaginário em dois campos distintos: das composições botânicas quase abstratas e das figuras icônicas que formam seu panteão particular. Enquanto a estética orgânica representa delicados jardins ou densas florestas que se bastam em suas composições formais, as figuras desempenham um papel mais comunicativo e discursivo – juntas, criam um universo próprio da artista”.
Moara Negreiros (Moka) nasceu no Acre, em 1991. Formada em design gráfico, atualmente mora em Macapá, Amapá, onde protagoniza na cena urbana local e coordena o espaço de cultura-arte-residência Casa Viva. Na @expodapaulista a artista apresenta cinco painéis intitulados: Marabaixo, Peconha açaizeiro, Nove de Ouros, Ribeirinha e Mulheres do meio do mundo. Nesses painéis, Moka fala das mulheres que colhem o açaí, nas ribeirinhas que levam as crianças para a escola e nas dançarinas de marabaixo, entre outras trabalhadoras do Norte. Nas palavras do curador Baixo Ribeiro: “Moka une bom humor e intensidade comunicativa na sua arte, baseada principalmente em mídias urbanas e digitais, imediatamente identificada com o graffiti pelo uso de elementos gráficos coloridos, a estética dos cartoons. Inspirada pelo ambiente da cidade de Macapá, a artista cria novos circuitos para apresentação da sua produção artística, que muitas vezes acontece ao vivo e com a presença de público, seja na rua, em clubes ou na sua Casa Viva, espécie de ateliê, residência e ponto de encontro”.
Moara Tupinambá nasceu em Belém do Pará (Mairi), em 1983. É artista visual, curadora, pesquisadora e ativista das causas indígenas, buscando valorizar sua ancestralidade – sua origem tupinambá do Baixo Tapajós, através de projetos estruturantes como a Associação Multiétnica Wyka Kwara, o coletivo Colabirinto, o Museu da Silva entre outros. Na @expodapaulista, a artista apresenta cinco painéis: Deusa de Mairi, Cris, Mamãe, Prima Lucilene e Vovó. Nesses painéis, Moara homenageia as mulheres que cuidaram da sua criação, educação, saúde e orientação profissional. Nas palavras do curador Baixo Ribeiro: “Artista multimídia, Moara desenvolveu um processo de construção de imagens a partir de colagens digitais, através das quais vai compondo figuras simbólicas, de modo a formar arranjos complexos. Através desse processo, a artista ressignifica as imagens de parentes indígenas, acrescentando-lhes um caráter totêmico, como na série de longa duração intitulada Mirasawá”.
Soberana Ziza nasceu em São Paulo, 1989. Tem formação multidisciplinar: graduação em moda, licenciatura em artes e pós-graduação em gestão pública. Ziza tem se dedicado a ações artísticas e de arte-educação junto a instituições museológicas e educativas. Na Exposição da Paulista, a artista apresenta cinco painéis intitulados: Lençol de memórias, Sustento diário, O rio que gera o sustento, A voz que alimenta e Teve começo mas não terá fim. Nesses painéis ela discute a invisibilidade de trabalhos historicamente executados por mulheres negras, como as pioneiras do samba em São Paulo ou as lavadeiras e quituteiras – que segundo a artista, também trabalhavam como articuladoras comunitárias. Nas palavras do curador Baixo Ribeiro: “Soberana Ziza traz para o primeiro plano o que foi esquecido, o que foi apagado, o que pode ser revivido através de seus desenhos e pinturas. Através de recursos diversos como traços digitais ou pinturas com rolos e sprays, a artista revela histórias esquecidas que, invariavelmente, acompanham as personagens que apresenta em quadros e murais, num esforço de resgate e registro memoriais, como na série dedicada às quituteiras, lavadeiras e sambistas negras que ocupavam as ruas da Liberdade antes desse bairro se transformar num ícone turístico ligado às culturas orientais”.
Talita Hoffmann nasceu em Porto Alegre/RS, em 1988. É formada em Design Gráfico e Artes Visuais, mora atualmente em São Paulo e vem atuando como artista visual, ilustradora e designer gráfica. Na @expodapaulista, Talita apresenta cinco painéis intitulados Amazônia, Cultura, Moradia, Saúde e Trabalho. Nesses painéis, a artista ressalta aspectos do trabalho humano, realçando a figura da mão que está sempre em ação, construindo algo, costurando, tecendo, bordando ou desenhando futuros. Nas palavras do curador Baixo Ribeiro: “Talita explora o campo visual com um método compositivo no qual as figuras se colocam como notas musicais numa partitura, definindo melodias e ritmos, imprimindo à narrativa uma visualidade bem objetiva. A figuração mobilizada pela artista tem um tratamento gráfico que transforma os objetos representados em ícones sintéticos e dá à composição um tom direto e comunicativo”.
Baixo Ribeiro nasceu em 1963 e vive em São Paulo. Ribeiro é curador especializado em arte urbana e novas linguagens digitais. Vem desenvolvendo projetos que unem arte, educação em processos colaborativos de impacto urbano, ambiental, social e político. Fundou a Choque Cultural em 2003 e o Instituto Educativo em 2010,. É conselheiro do Centro Ruth Cardoso, da Associação Cultural Casa das Caldeiras e da Associação Brasileira de Arte Contemporânea.
Além da curadoria da 9ª edição da Expo da Paulista, assina também a curadoria da exposição coletiva Xilograffiti que ocorre no Sesc Consolação; a mostra de vídeo arte “Visão Periférica” num telão de led no Centro de São Paulo e a exposição do artista Rafael Silveira, ambas no Farol Santander, em São Paulo; e a primeira exposição do artista britânico Adam Neate em São Paulo, na galeria Choque Cultural.
Realizou importantes programas como “De Dentro e De Fora”- série de exposições, instalações de arte urbana e ações educativas em associação com o Museu de Arte de São Paulo MASP – programa realizado de 2008 a 2012; “Streets of São Paulo” – série de exposições, intercâmbios, residências e ações educativas em parceria com Jonathan LeVine, curador norte-americano e diretor da galeria de mesmo nome em Nova Iorque – programa realizado de 2006 a 2012; “Choque Cultural UK” – série de edições exposições, intercâmbios, residências, em parceria com o curador Tristan Manco e com o artista Banksy, diretores da oficina de gravuras britânica Pictures On Walls – programa realizado de 2004 a 2012; USP_Urbana, programa de pesquisa e ações educativas que vem sendo realizado em associação com a Reitoria da Universidade de São Paulo, de 2018 até agora; desenvolveu, também, muitas exposições integradas a ações urbanas e educativos, em parcerias com Museu AfroBrasil, Museu da Língua, Museu da Pessoa, Museu da Resistência, Pinacoteca, Fiesp, Senac, SESC, CC Banco do Nordeste (Juazeiro do Norte), Centro Dragão do Mar (Fortaleza), Museu Oscar Niemeyer (Curitiba), Fundação Iberê Camargo (Porto Alegre), Fondacion Cartier (Paris), Stiftung Brasilea (Suíça) para citar algumas de suas atividades recentes.